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O papel dos mitos e dos corpos celestes na Astrologia
Mitos e mitologias são, de fato, apenas estórias com diversas finalidades.
Por Astrolink em Astrologia básica
Modo claro
12 minutos de leitura
Quer saber como essas informações podem afetar sua vida?
O uso de mitos na Astrologia para atribuir significados aos movimentos e posicionamentos de corpos celestes tem sido uma prática comum ao longo dos séculos. Mitos provenientes de diferentes culturas e tradições têm sido entrelaçados nas interpretações astrológicas, fornecendo um arcabouço rico e simbólico capaz de ampliar a compreensão dos fenômenos celestes e suas conexões com as vidas das pessoas.
Alguns exemplos são o mito de Castor e Pólux, associado ao signo de Gêmeos; o mito de Quíron, centauro que esteve sob a tutela de Apolo e relacionado ao asteroide; e o mito de Lilith, que possui muitas origens e estórias, uma delas associada ao lado obscuro da Lua.
Contudo, o uso indiscriminado deste recurso como forma de defender uma ideia ou interpretação astrológica apresenta uma problemática pautada em erro básico de Lógica e Semiótica.
Princípios do estudo da Astrologia
A Astrologia estuda a relação entre o movimento cíclico de corpos celestes e do céu no ambiente celeste e as relações cíclicas dos eventos na Terra. Assim desde sua origem, zelou-se sempre por se obter as informações mais exatas possíveis das posições dos astros no Céu no passado e no futuro (mesmo entre os caldeus o que levou ao aperfeiçoamento dos cálculos astronômicos) para que não se perdesse a relação com o mundo fenomênico ou natural.
Desta forma, introduzimos as posições de Urano, Netuno e Plutão em Astrologia com o passar dos séculos, fruto de observações originárias em Astrologia Coletiva passando posteriormente à Astrologia individual.
O que são mitos?
Mitos e mitologias são, de fato, estórias - nada mais do que isto. Eles têm como objetivo explicar, por meio de narrativas, fenômenos da natureza, a origem das coisas e até mesmo elementos da nossa realidade e podem ser considerados parte da manifestação cultural de diversos povos.
Estudiosos de História, arqueólogos, antropólogos, mitólogos, semiólogos e simbolistas, como Mircea Eliade, Joseph Campbell e Robert Graves, têm estudado esta manifestação cultural de forma universal há muito tempo.
Esse corpo de conhecimento advindo de diferentes áreas tem aspectos complexos, com fontes variadas e diversas finalidades. Eles podem ser utilizados para enredar diferentes estórias, que vão da cosmologia à propaganda política encomendada pelos governadores de cidades e estados.
Desta forma, interpretar mitos sem um estudo prévio de sua natureza historiográfica e sem embasamento crítico representa um grande risco.
Mitos podem ter algumas características como:
- Imagético - É expresso ou compreendido principalmente por meio de imagens ou representações visuais, que podem incluir ícones, símbolos, arte e outras formas de representação visual que carregam um significado mitológico.
- Imaginário - Refere-se a um mito que foi criado ou modificado de acordo com a imaginação individual ou coletiva de uma pessoa ou sociedade, em vez de ser baseado em textos ou tradições fixas e inalteráveis. Todos os mitos podem ser vistos como produtos da imaginação humana, pois são histórias inventadas para explicar o mundo natural, as origens da humanidade e os costumes culturais. No entanto, mitos imaginários podem ser usados para enfatizar uma natureza mais criativa e flexível do mito.
- Didático / Profano - O sagrado e o profano representam dois polos de interpretação da realidade, variando de acordo com as crenças culturais. O sagrado é frequentemente visto como ligado ao divino, à natureza imutável e cíclica da vida e do universo, refletindo o que é eterno, constante e certamente verdadeiro. Em contraste, o profano engloba o que é humano, mundano e mutável, abrangendo os aspectos da vida e do mundo que são construídos pelos seres humanos e, portanto, capazes de evoluir e se adaptar ao longo do tempo. Neste caso de mitos mais didáticos e profanos, podemos pensar em histórias ou narrativas que lidam mais com questões humanas, sociais e culturais do que com deuses, deusas ou questões sobrenaturais. Um exemplo são as muitas fábulas que terminam com uma "moral da história", do tipo que transmitem um ensinamento para o dia a dia e a vida comum.
- Exemplo / Parábola - Geralmente, transmitem uma lição moral ou ética por meio do uso de personagens e eventos simbólicos, como parábolas. Utilizam o simbolismo e a alegoria para ensinar lições e compartilhar sabedoria. Essas histórias costumam ter duas camadas de significado: o literal e o simbólico. A história literal descreve os eventos que ocorrem, enquanto a interpretação simbólica revela a lição ou moral subjacente. No mito de Ícaro, por exemplo, a história literal é sobre um menino que desobedece as instruções de seu pai e voa muito perto do sol, resultando em sua queda e morte. No entanto, o significado simbólico, ou a parábola, é uma lição sobre os perigos do excesso de ambição, desobediência e falta de moderação.
- Lúdico - Usa-se o humor, os jogos e a diversão para transmitir lições morais ou éticas de uma maneira envolvente e memorável, semelhante ao modo como as fábulas funcionam.
- Político - Usados e interpretados para transmitir mensagens políticas, muitas vezes relacionadas com questões de poder, identidade nacional e conflitos entre diferentes grupos ou nações, moldando a opinião pública. Muitas vezes, desempenham um papel na formação da identidade nacional, legitimando governos ou regimes ou justificando certas políticas ou ações. Por exemplo, a ideia do "sonho americano" pode ser vista como um tipo de mito político que tem moldado a identidade e a política dos Estados Unidos. Outro exemplo é o mito de Teseu e o Minotauro: na história, Teseu, o herói ateniense, vai a Creta para matar Minotauro, um monstro meio homem, meio touro que vive no centro de um labirinto. Teseu é bem-sucedido e, com a ajuda de Ariadne, a filha do rei Minos de Creta, ele consegue sair do labirinto e voltar para Atenas. Estudiosos argumentaram que este mito pode ser lido como uma representação simbólica da ascensão política de Atenas e sua libertação do domínio de Creta. Teseu, representando Atenas, derrota o Minotauro, que simboliza o poder de Creta. O mito serviria, então, não apenas como uma história de aventura e heroísmo, mas também como uma alegoria para a emancipação política de Atenas. Além disso, na antiguidade, muitos reis afirmavam ser descendentes de deuses ou heróis para justificar seu direito de governar.
- Sincrético - Combina elementos de diversas tradições religiosas ou culturais em um processo de fusão ou reconciliação de diferentes crenças. É possível encontrar muitos exemplos de deuses, rituais e mitos que têm características semelhantes em múltiplas culturas. Essas semelhanças podem ser o resultado do contato cultural e da troca de ideias ou podem surgir de maneira independente, como resultado de temas e questões universais.
- Antropomórfico - Atribui características humanas a entidades não humanas, como deuses, animais, objetos inanimados ou forças da natureza. O termo "antropomorfismo" vem das palavras gregas anthropos (humano) e morphe (forma), e refere-se ao ato de atribuir características humanas a algo que não é humano. Na mitologia, o antropomorfismo é uma prática comum. Muitos deuses e deusas são retratados com características humanas, não apenas na aparência física, mas também em termos de suas emoções, pensamentos e comportamentos, pois isso pode tornar essas entidades mais compreensíveis.
A relação dos mitos com a busca pelo conhecimento
Robert Graves nos diz: "Uma verdadeira ciência do mito deveria se desenvolver com base em estudos de arqueologia, História e religião comparada, e não a partir do consultório do psicoterapeuta".
Neste sentido Graves alerta para o erro de acreditar (pela dificuldade em entender o que são os mitos) que os mitos são sempre “expressões do inconsciente humano” , em que a imaginação pode ter livre curso. Neste caso, é um erro grave de Semiótica e simbolismo.
Ou em outra passagem: "Embora os junguianos considerem os mitos como ´revelações originais da psique pré-consciente, manifestações involuntárias a respeito de acontecimentos psíquicos inconscientes´, o conteúdo da mitologia grega não era mais misterioso do que as modernas caricaturas eleitorais, e era formulado, em sua maior parte, nos territórios que mantinham estreitas relações políticas com a Creta minoica".
Neste caso, Graves nos alerta para o fato de que idealizamos os mitos Gregos e os associamos à sabedoria ou ao conhecimento de forma equivocada.
E complementa: "Meu método foi reunir, numa narrativa harmônica, todos os elementos dispersos de cada mito, apoiando-me em versões pouco conhecidas que podem ajudar a determinar seu significado e a responder, da melhor maneira possível, em termos antropológicos ou históricos, a todas as questões que possam surgir".
Neste brilhante tratado, Graves por exemplo, nos faz um estudo da historia de cada narrativa, dos movimentos tribais e dos sincretismos ou as mesmas estórias que vão sendo trazidas de um lugar ao outro e ganhando nomes e acrescentos sincréticos, criando a icononotropia.
Eliade nos fala o mesmo em "Aspectos do Mito" ou "Mito e Realidade", onde separa os mitos cosmológicos (com características de natureza da Natureza) das estórias chamadas de "falsas" ou "profanas".
Antes de tudo, o melhor é deixar os estudiosos do assunto a nos ajudarem nesse árdua tarefa de conhecer.
Associações da Astrologia com Mitos e Sincretismo
Uma parte da Astrologia quando chega à Grécia, por exemplo, se sincretiza com os mitos Gregos.
Pelo prestígio da prática no período Greco-Romano, muitos, para sustentarem suas religiões, sincretizaram suas estórias com a Astrologia (princípios organizadores de ordem na época). Entretanto, não só não existe consenso entre os sincretismos como também, se sabe que sincretismos criam a icononotropia de um signo, ou seja, o significado é deteriorado ou pervertido.
Nossa Senhora, a Lua e os sincretismos
Da mesma forma, ocorreu o sincretismo entre a Astrologia e o Cristianismo no período bizantino, e era muito comum se associar Jesus ao Sol, Nossa Senhora à Lua e os Signos do Zodíaco aos apóstolos.
Judas, por exemplo, foi sincretizado ao signo de Escorpião, criando-se a ideia de que pessoas com o Sol neste signo são traidoras.
Desta maneira, historiadores e pesquisadores devem evitar textos sincréticos pelo fato de haver a degradação das observações em detrimento da conveniência adaptativa, muitas vezes de ordem política, de crença e de religião.
O mesmo fez Graves em seus estudos para separar "historia" de "estórias" tanto quanto se fosse possível. Nos estudos de Semiótica, compreendemos que de tanto uma estória falsa se repetir e ser transmitida de cultura em cultura, passa a ser recontada com outros nomes, personagens e adequadas ao momento – e as pessoas nos meios sociais continuam acreditando nela.
Ausência de mitos nos textos mais técnicos de Astrologia
Astrólogos admitem que Signos, Astros, Casas e Aspectos, assim como métodos de predição sejam muito funcionais e verificáveis. Em geral, seus fundamentadores ou textos fundamentais como os autores: Ptolomeu, Vallens, Sidon, Aristoteles, Plácidus de Titius, Morin de Villefranche, Regiomontanus entre os gregos e renascentistas não apresentam fundamentos Astrológicos na Mitologia Grega.
Da mesma forma, alguns contemporâneos e grandes referências para século XX e XXI vindos da Europa como Barbault, Weiss, Carter, Gouchon por exemplo, igualmente não se referem a Mitologia Grega como a base da Astrologia.
Estes eram de formação astrológica sólida e conheciam a historia deste conhecimento complexo, assim como conheciam Semiótica e Lógica.
Assim, sabiam que o importe poderia conter graves erros interpretativos de signo-sinais celestes e terrestres.
Entretanto, coube a alguns astrólogos americanos – muitos deles emergindo da Psicologia – associarem Astrologia aos mitos. Muitos sequer admitem o efeito astrológico de corpos celestes, movimento, memória, cosmologia para uma relação da Astrologia com o mundo natural!
Referem-se meramente a isso como "arquétipos" sem explicarem a fundo o que isto significa. Muitos, de fato, sempre se colocaram como "psicólogos que estudavam Astrologia" e não exatamente como astrólogos.
Outros diziam que a Astrologia não poderia existir sem a Psicologia, o que mostra um erro e desconhecimento histórico, pois toda psicologia do sujeito teve como modelo a Astrologia desde o século V a.C. nas próprias palavras de Carl Gustav Jung.
Nesta prática, bastava associar "nomes", acreditando que duas coisas com o mesmo nome teriam o mesmo efeito, como um astro e um mito – ou que qualquer outra coisa tem uma ligação por ter o mesmo nome, um erro básico de Lógica de Semiótica.
Analogias não se estabelecem por fonemas e letras, e sim por sinais que se associam, como fogo e fumaça, Sol e luz, luz e calor. Assim, existe uma lógica entre os sinais envolvidos que pode conter um princípio universal.
Desta forma, a analogia não se estabelece em termos de lógica, e sim do que "me vem à cabeça", como uma criança que associa "Débora" a "Abóbora" porque as palavras são foneticamente parecidas.
Assim, apesar de os mitos funcionarem como exemplos e estórias capazes de prender a atenção e facilitar o entendimento de algumas situações, seu uso na Astrologia pode - e deve - ser questionado quando se trata de uma associação indiscriminada.
Se você se interessa pelo tema, fica aqui o convite para conhecer um pouco mais sobre mitos, acessando nossa área de artigos sobre mitos e reflexões.